segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Carreira Diplomática Brasileira



O texto a seguir é de autoria de um grande amigo, irmão, Leonardo Queiroz Leite, bacharel em Relações Internacionais pela UNESP - Franca, membro da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra - ADESG e acadêmico em Direito - Faculdade de Direito de Franca.
O blog Política e Debate tem como primeiro objetivo difundir a educação política, e é de extrema importância para a população entender as funções e trabalhos de um Diplomata, representante do Brasil no exterior; função de responsabilidade e que, direta ou indiretamente, acaba alterando nosso dia-a-dia.

A opção clássica do bacharel em Relações Internacionais: a carreira diplomática

A opção pela carreira diplomática figura como o caminho mais tradicional para o bacharel em Relações Internacionais. É impossível passar quatro anos estudando o funcionamento do sistema internacional sem em algum momento se colocar na pele de um dos atores mais importantes da vida internacional: o diplomata.
O curso de graduação em Relações Internacionais, por sua vocação multidisciplinar e generalista, é, inegavelmente, o mais indicado para aqueles que pretendem se debruçar sobre os estudos para o Concurso de Admissão à Carreira Diplomática (CACD). Ao tomar contato com temas de História, Diplomacia, Direito, Política Internacional, Economia e Teoria das Relações Internacionais ao longo do curso, o estudante de RI passa a construir uma sólida base conceitual e teórica, e ao mesmo tempo em que cursa a graduação já está automaticamente se preparando para o concurso. Atualmente, essa tendência tornou-se evidente visto que os egressos dos cursos de Relações Internacionais são o segundo grupo mais numeroso nas listas de aprovados para o Instituto Rio Branco, ficando somente atrás da tradicionalíssima formação em Direito
O diplomata é um servidor público federal que possui três funções essenciais: representar, negociar e informar. Esse profissional pode trabalhar tanto no Ministério das Relações Exteriores em Brasília, como em embaixadas e organismos internacionais em vários países nos quais o Brasil está diplomaticamente presente. Sinteticamente, pode-se dizer que o diplomata trabalha para elaborar posições negociadoras e propor linhas de ação que o seu país deve executar para dar concretude às diretrizes gerais de política externa formuladas pela Presidência da República e pelo Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty. Para atingir seu objetivo, o diplomata processa informações e coloca em prática seu conhecimento para elaborar posturas políticas que favoreçam o interesse nacional do país que defende.
O Brasil, com sua fortíssima tradição diplomática, conta com uma academia diplomática de enorme prestígio internacional (o Instituto Rio Branco) e com a centralização da política externa nas mãos do Itamaraty. Assim, exige dos aspirantes a diplomata uma imensa carga de estudos e uma formidável bagagem cultural acumulada, uma vez que o exame de admissão por via de concurso público é a única e exclusiva forma de entrada na carreira. É um caminho penoso, e passar por essa porta estreita exige anos de dedicação aos estudos preparatórios, além de profundos conhecimentos em línguas, sendo cobrados o Português com status eliminatório, o inglês e duas outras línguas como classificatórias.
Portanto, a aprovação na carreira diplomática é um projeto plurianual, que demanda essencialmente tempo, conhecimento acadêmico sólido, atualização constante e acompanhamento da realidade internacional, domínio completo de quatro idiomas, leitura mínima da densa bibliografia exigida e, principalmente, um arcabouço cultural bem acima da média.
Levando em consideração a dificuldade inerente à opção pela diplomacia, é crucial ponderar que a carreira diplomática implica em uma série de fatores que a diferenciam substancialmente das demais profissões. Para o senso comum, a carrière é sempre cercada por uma aura de glamour e de infindáveis prazeres sociais regados a caviar e champagne. Todavia, na realidade, o que se verifica é muito trabalho duro devido ao reduzido número de diplomatas, necessidade de adaptação a diferentes países e culturas e de um forte espírito de renúncia pessoal.
Em compensação, de acordo com o diplomata francês do século XVIII, François de Callières, “a decepção nos aguarda em todos os caminhos da vida, mas em profissão alguma os desapontamentos são tão amplamente superados por ricas oportunidades como na prática da diplomacia”. Portanto, a força de sedução da carreira diplomática e todo o fascínio que ela inspira decorrem das oportunidades douradas que o diplomata tem, no seu dia-a-dia, de conviver com pessoas interessantes, de poder conhecer o mundo e de ter contato direto com os bastidores da política internacional.
Encerro o artigo com a magistral definição da carreira diplomática proposta pelo Embaixador Mário Gibson Barbosa: "Confesso que não sei, até hoje, em que consiste uma vocação diplomática. Se por tal se entende o gosto fútil pelos prazeres mundanos, pelas festas de sociedade, então o equívoco é grave e pode ser funesto. Pois ser diplomata é, antes de tudo, aceitar a condição de estrangeiro, na maior parte existência. É conformar-se em viver num país que não é o nosso e que nunca nos aceitará totalmente, por mais que nele possamos criar um círculo, sempre provisório, de relações, num meio que devemos cuidadosamente respeitar para não ferir suscetibilidades, pois a crítica não é tolerada quando provém de um estrangeiro. É resignar-se a viver longe da família e dos amigos, a ponto de, por causa das prolongadas ausências, faltarem assuntos quando nos reencontramos. É ficar fisicamente afastado do povo a que pertencemos e que forma o nosso substrato psicológico e social. É ter equilíbrio emocional para, muitas vezes, suportar a solidão. É possuir ou adquirir a qualidade de saber adaptar-se. É ter gosto pela negociação e pela conciliação, resistindo ou cedendo conforme o caso, para chegar a um fim que nunca será inteiramente satisfatório. É ter a humildade de se converter num especialista em generalidades, em saber pouco de muito em vez de muito de pouco, ao contrário, portanto, do que caracteriza o técnico."

PS: Duas leituras podem ser muito valiosas para aqueles que se inclinam para a opção da carreira diplomática e querem conhecer mais sobre a vida do diplomata e sua atividade profissional:

1) Os bastidores da diplomacia: O Bife de Zinco e outras histórias, do diplomata e ex-embaixador brasileiro no Chile, Guilherme Luiz Leite Ribeiro. Publicado pela editora Nova Fronteira, 2007.
2) O Instituto Rio Branco e a diplomacia brasileira: um estudo de carreira e socialização, da antropóloga Cristina Patriota de Moura. Publicado pela Editora FGV, 2007.

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